Novo Shadow of the Colossus revive alguns dos momentos mais intensos dos games
A volta de "Shadow of the Colossus", game de PlayStation 2 que ganhou uma versão refeita do zero para PS4, é a mais nova oportunidade de viver alguns dos momentos e sentimentos mais intensos e icônicos dos videogames nos últimos 15 anos.
E tudo isso apesar da releitura do jogo não corrigir problemas técnicos antigos que, em qualquer título atual, seriam ridicularizados. Clássico é clássico, né?
Derrubando gigantes
Não é que "Shadow of the Colossus" tenha envelhecido mal. Pelo contrário. Localizar, decifrar e derrotar mais de uma dezena de criaturas monumentais para poder ressuscitar a sua donzela ainda é uma das tarefas mais amáveis, sacrificantes e, ao mesmo tempo, perversas dos games.
Movido pela voz da entidade misteriosa Dormin, o protagonista Wander explora planaltos, cavernas e outros cenários exuberantes em busca dos esconderijos dos tais colossos. O objetivo é um só: aniquilá-los atacando seus pontos fracos, símbolos brilhantes espalhados estrategicamente pelo corpo. Mas a ação passa longe da repetição.
Cada confronto com os gigantes é único e exige estratégias diferentes. Em um é preciso descobrir uma forma de escalar o braço de um colosso humanoide enquanto ele solta pancadas furiosas no chão. Noutro, o desafio é atrair e montar um colosso voador que passa a maior parte do tempo no ar.
E por aí vai, com batalhas na água, no deserto, e contra adversários de várias outras formas. Falar muito seria spoiler, mesmo levando em conta um jogo de 13 anos de idade. É que o processo de descobrir a solução para cada embate, somada à escala das lutas, já que vários colossos são muitas vezes maiores que a tela da TV, fazem de cada combate de "Shadow of the Colossus" uma nova reencenação dramática da história de Davi e Golias.
Guerra e paz
Mas apesar de mastodôntica, a dimensão dos confrontos de "Shadow of the Colossus" só ganha a devida proporção no contraste com a atmosfera pacífica, solitária e elementar deste mundo de gigantes. Isso porque:
Não há outros inimigos para enfrentar além dos colossos;
- As paisagens visitadas por Wander são sempre de natureza pura e selvagem;
- O herói tem habilidades básicas, usa um tipo de espada e de arco e flecha, e só conta com a ajuda do seu cavalo Argo;
- E o próprio ato de confrontar os adversários traz uma tensão subliminar, já que vários deles não reagem ou atacam Wander em um primeiro momento.
Esse clima de paraíso intocado é o estilão do game designer Fumito Ueda, que leva no currículo outros jogos minimalistas, delicados e silenciosos, como "Ico" e "The Last Guardian" – este último o protagonista de um dos últimos grandes dramas nos games, já que levou 9 anos para ser lançado.
E é justamente por causa dessa pegada que todo acontecimento em "Shadow of the Colossus" carrega uma carga emocional bem forte. Toda batalha contra um colosso poderia ser a última por conta da gravidade e da intensidade do duelo, mas a cada uma delas o jogador se reinventa para a próxima.
Só para continuar obedecendo as ordens de uma voz do além, interferindo no ambiente ao seu redor e derrubando criaturas enormes na esperança de trazer a princesa Mono de volta à vida. Até que as coisas ficam cada vez mais obscuras e culminam num final que, até hoje, continua sendo um dos mais surpreendentes dos videogames.
O novo colosso
Para os familiarizados com "Shadow of the Colossus", tudo está do jeito que você deixou no seu PS2 lá em 2005 (ou na versão em HD de 2011 para PS3). Isso porque o "remake" produzido pela Bluepoint Games é exatamente igual à versão original, com a óbvia exceção da parte visual do jogo, como texturas, animações e iluminação, que foi atualizada para os padrões gráficos de um game moderno.
Nesse sentido, o trabalho vale a pena. A versão de 2018 é sem dúvida a melhor de "Shadow of the Colossus" e não faz feio até diante de títulos criados para a geração atual de consoles.
Mas se por um lado é elogioso que a essência do clássico tenha se mantido, por outro é alarmante que a câmera instável e os controles extremamente imprecisos, principalmente nos momentos em que é preciso se movimentar agarrado aos pelos dos colossos, tenham permanecido.
Foram características tecnicamente ultrapassadas como essas que contribuíram para o fracasso de crítica e público de "The Last Guardian", em 2016. "Shadow of the Colossus" é lindo, mas é sábio se preparar para a frustração que pinta quando você cai de um colosso porque Wander se enroscou numa quina invisível. Ou porque a câmera não ajudou na hora de pular do braço para as costas do gigante.
Se em 2005 essa era a tecnologia disponível, paciência. Mas isso não é estilo. Jogos como "The Legend of Zelda: Breath of the Wild", que tem influência clara de "Shadow of the Colossus", compartilham situações parecidas provando que têm o apuro técnico em dia.
A boa notícia é que mesmo com esses problemas a experiência com "Shadow of the Colossus" não se abala. Essa é a força de um clássico de verdade, uma obra que é capaz de superar obstáculos (dessa vez, de maneira um pouco desnecessária, convenhamos) para transmitir uma mensagem única e especial.
"Shadow of the Colossus" trata de coragem, heroísmo e sacrifício. Mas também de solidão, desespero e servidão.
Se você já jogou, a nostalgia vai bater forte e as velhas emoções vão aflorescer mais uma vez. Se tudo isso é novo pra você, eis aqui uma aventura que dispensa cascatas de menus, centenas de armas, "grinding" e um enredo inflado de personagens. E conta uma história que fala tanto com tão pouco.
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Fonte: G1